domingo, 19 de fevereiro de 2012

Meditação para machões - um cético, fanático por esportes e cerveja, dá uma chance à meditação.

Quando se ouve a expressão "praticante de meditação", aposto que ninguém visualiza um ex-repórter policial de 30 anos e 1,88 m de altura, vestido com a camisa do Detroit Red Wings recuperando-se de uma noitada de pôquer e muita cerveja com amigos.
Pois é. Esse sou eu.
Depois de passar um mês sem dormir direito e de ir ao médico seis vezes por causa de problemas digestivos, meu lado machão teve de ceder. E quando o médico me disse que não havia nada de errado comigo, só ansiedade e estresse, que geravam mais ansiedade e estresse ainda - ele estava me chamando de maluco, não estava? -,bem, fiquei aberto a sugestões.
Assim, a conselho médico, me inscrevi num programa de redução de estresse, baseado na atenção plena. Toda noite de terça feira, durante dois meses, ficava sentado no chão (e as vezes deitado) em uma salinha com mais dez pacientes. Esses candidatos a meditadores tinham várias razões para estar ali, mas, fora algumas questões sérias de saúde, o problema principal era o mesmo: não conseguiamos desligar a mente, nos acalmar e relaxar.
A meditação da atenção plena vem ganhando popularidade e credibilidade clínica constante nos ultimos 30 anos. Os pontos básicos da atenção plena são muito simples. Você está lendo este texto, mas é bem provável que não esteja tão consciente do que faz. Talvez esteja matando tempo no consultório do dentista ou dentro do metrô a caminho do trabalho, ou à espera de um amigo. Agora, experimente deixar de lado, o que estava pensando e fazendo e se concentre: qual é a sensação tátil de segurar no mouse? Como é a tipologia do texto? Existem outros ruídos ao seu redor? Se estava fazendo uma leitura diagonal volte ao início propositadamente, lendo cada palavra, antes de seguir para a próxima. Isso não foi um truque para obrigar você a passar mais tempo lendo meu texto - você o leu com atenção plena. É possível ter atenção plena ao escovar os dentes (sinta as cerdas tocando a gengiva), ao dobrar a roupa limpa (inale o aroma) ou ao levar o lixo para fora (preste atenção à calçada, ao frescor da manhã e à tensão nos músculos necessária para carregar os sacos). A prática da redução do estresse, baseada na atenção plena é aplicada na meditação seguindo 3 instruções básicas:
1- Encontre uma âncora na qual fixar a atenção(a respiração, por exemplo, ou o movimento para cima e para baixo do abdome).
2- Aceite as distrações que surgirem enquanto você se concentra na âncora.
3- Deixe as distrações irem embora e reconduza a atenção para a âncora.
Jon Kabat-Zinn foi quem trouxe a atenção plena para o ocidente. Ele a descreve como "nível de consciencia ininterupto, cultivado ao se prestar atenção intencional em coisas nas quais normalmente nem sequer pensamos". Nas primeiras semanas de aula, eu não conseguia acreditar que estava lá. Estou mesmo forçando meu tornozelo para me contorcer numa postura de meio-lótus? Abcabei de levar 15 minutos para comer três passas? Sério ? quem é esse cara? Mas eu não deveria ter ficado tão constrangido. Na ultima década, houve uma torrente de estudos sobre os benefícios dos programas de redução do estresse baseados na atenção plena. Eles defendem a eficácia da técnica para tratar de tudo: depressão, dores crônicas, síndrome do intestino irritável, esquisofrenia, diabetes, hepatite, bem como hiperatividade e déficit de atenção em garotos. O meu lado que usa camisa de flanela e joga Xbox, ficou ainda mais tranquilo quando soube que o exército americano utiliza a técnica para ajudar veteranos da guerra do Iraque que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático. Quem pratica atenção plena começa a ver que os pensamentos vêm e vão e mudam o tempo todo, mas que o cérebro possui uma lista de 10 pensamentos recorrentes. Antes de fazer o curso, minha mente vivia fugindo ao controle e eu sempre imaginava que o pior aonteceria, levando a Lei de Murphy às conclusões mais catastróficas. Eu passava da preocupação à insônia, ao tremor nas mãos, à nausea e à dor de estômago. Perdi férias, sai no meio de festas ótimas e até tirei licença no trabalho. hoje, quando a sensação de angústia borbulha dentro de mim, sinaliza outra coisa: que não estou atento; que preciso aceitar que a preocupação existe e deixá-la ir embora. Ou, como ensina a gravação no meu Ipod: "Para começar, basta concentrar a atenção na respiração". Desde então, tentei usar atenção plena em muitas áreas de minha vida. Concentrar-se na respiração realmente ajuda a acalmar os nervos antes de bater uma falta ou de apostar tudo na mesa de pôquer. Descobri que ficar plenamente atento também me dá paciência ao lidar com as pessoas quando não estou me sentindo bem ou atrás de gente mole na fila do supermercado. Mas o que aprendi com a meditação durante as eliminatórias do campeonato foi o seguinte: é maravilhoso não ter mais o tipo de ansiedade que me deixava acordado à noite, passando mal de tanta preocupação, mas há momentos estressantes que realmente quero viver. A atenção plena me permitiu ver isso. Uma semifinal de hóquei é o tipo certo de ansiedade.*

*Texto extraido da revista Seleções de autoria de Jordan Heath Rawlings.

Nenhum comentário:

Postar um comentário